Parceria entre Bombeiros e Santa Casa destaca a solidariedade materna para salvar vidas
Publicado: 5 de novembro de 2019 - Hora: 12:15

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Parceria entre Bombeiros e Santa Casa destaca a solidariedade materna para salvar vidas

 

Mais um dia para resgatar vidas. É assim que a bombeira militar, cabo Nilma Araújo, encara a rotina de trabalho atrás de leite materno em vários bairros da região metropolitana de Belém.

“Trabalhei 10 anos no resgate de vítimas, principalmente, de acidentes de trânsito. E agora são 2 anos trabalhando para reforçar o banco de leite da Santa Casa. O trabalho é diferente, mas continuo salvando vidas”, disse a cabo.

Fazendo jus ao nome, há 16 anos, o projeto “Bombeiros da Vida” é uma parceria bem-sucedida entre Corpo de Bombeiros do Pará e a Fundação Santa Casa de Misericórdia que representa 70% da coleta de leite materno para os prematuros em estado grave a gravíssimo.

“Eles são parceiros fundamentais para nós. Porque a Santa Casa é referência na gravidez e parto de risco. Temos bebês de extremo baixo peso, que estão abaixo de 1kg, que não toleram qualquer alimento. E é muito comum, essa mãe que teve bebê aqui não ter condições de amamentar. Então, os bombeiros com a expertise que têm coletam no dia a dia e em todos os lugares, inclusive de difícil acesso”, diz a nutricionista Vanda Marvão, gerente interina do Banco de Leite da Santa Casa.

Partindo numa unidade móvel, a equipe de coleta externa (com bombeiros militares e voluntários civis) sai da Santa Casa e percorre a Grande Belém com uma missão a cumprir: Captar doadoras e trocar frascos de vidros vazios por outros cheios de leite. Entretanto, antes desses “super-heróis” entrarem em ação, tem que surgir, espontaneamente, as “super-mães” voluntárias.

“O gesto é solidário. A mãe que quer doar entra no site do corpo de bombeiros e se cadastra ou liga para os nossos números. A gente faz uma primeira visita, quando orientamos as doadoras e depois agendamos o dia da coleta”, diz a cabo Carlena Figueiredo, uma das coordenadoras do projeto.

Uma dessas doadoras é Adailva Aviz que há três meses deu à luz ao pequeno Emanuel e assim que chegou em casa da maternidade, decidiu procurar o projeto. “Estou doando desde a primeira semana de nascimento dele. Lembro que cheguei em casa no domingo e na segunda eu liguei e disse que tinha muito leite pra doar. Eles vieram no mesmo dia e deixaram os kits com os frascos”, disse Adailva.

Os kits contam com frascos de vidros com tampa plástica rosqueada, máscaras e toucas. Todo o procedimento é devidamente orientado para que siga as recomendações higiênico-sanitárias. Adailva conhece bem o processo. Foi doadora na primeira gravidez, há 7 anos, e agora voltar a doar. Ela chega a coletar, por semana, de 10 a 20 frascos.

A ida dos “Bombeiros da Vida” na casa da doadora, tem um valor enorme pra eliminar a dificuldade de realização de um gesto tão nobre. Cuidando dos filhos em casa, no bairro do Curió Utinga, Adailva revela que nunca foi e não teria como ir até a Santa Casa. O reconhecimento tocou no coração da equipe de bombeiros, especialmente, da cabo Nilma. “Eu me emociono porque é um trabalho maravilhoso. Fico emocionada pensando nos bebês que a gente está salvando, porque a gente vê lá na Santa Casa o quanto eles precisam. E vê que ela se preocupa com eles sem ao menos conhecê-los é muito bonito”, disse a bombeiro militar.

E como todo gesto solidário nos ensina a se colocar no lugar do outro, o projeto não é só pelos pequeninos, mas também de mulher para mulher, de mãe pra mãe.

“É muito amor. Me sinto privilegiada de poder ajudar, me empenho mesmo. Eu queria que toda mãe pudesse amamentar seu filho como eu faço com o meu”, conta Adailva.

O caminho do Leite – Depois da captação na casa das doadoras, o trabalho não acaba por aí. O material, que fica numa bolsa térmica com gelo, é levado para o Banco de Leite da Fundação Santa Casa de Misericórdia. E a partir daí segue um caminho criterioso de classificação do leite e de controle de qualidade até ser distribuído para a Unidade Neonatal.

Entram em cena outros personagens nesta missão de salvar vidas. Técnicos de laboratório, médicos e nutricionistas. Seguindo normas da Rede Nacional do Banco de Leite, a equipe registra no sistema a chegada de cada frasco doado. Segundo a nutricionista Vanda Marvão, é gerado um código na rotulagem do recipiente. Ficam ali, todas as informações necessárias sobre o leite e a doadora, tais como, o nome da mãe, a data do parto, a data da coleta e o tempo de gestação.

“São informações importantes pra saber a validade desse leite e saber se ele é mais recomendado para um bebê de poucos dias ou um mais maduro. Por exemplo, o leite de um parto de pouco tempo de gestação e com coleta recente tem mais colostro, ou seja, mais nutrientes e anticorpos. Esse então a gente repassa para bebês em estado grave a gravíssimo”, explica a nutricionista.

Depois disso, o leite pré-estocado segue para as análises. Técnicos fazem primeiro uma análise sensorial do recipiente. Verificam a cor do leite, se não tem impurezas, se existe algum odor estranho, se a embalagem está em boas condições, se a tampa é adequada (servem apenas as de plástico).

Se passar nesse primeiro teste, segue para outro. No teste físico-químico, são analisados a quantidade de lipídios (gorduras) e calorias e o teor de acidez do leite.

“Leites hipercalóricos são ótimos para bebês prematuros. Com acidez acima de 7 são descartados. Abaixo disso, pode ser recomendado para os recém-nascidos”, ressalta Vanda.

Ao passar por esta classificação, o leite segue para o processo de pasteurização, no qual, a uma temperatura de 62,5°C, são eliminados os micro-organismos que causam doenças, como bactérias e germes.

Por último, é feito uma análise microbiológica, com tubos de ensaio em um meio de cultura e uma incubação de 48 horas. Se o resultado desse teste der negativo é porque o leite está saudável e já pode ser distribuído aos bebês. Se estocado, pode durar seis meses no congelador.

Baixo Estoque – Segundo a gerência, o Banco de Leite da Santa Casa tem capacidade para armazenar até 500 litros de leite por mês. Mas o estoque atual está 40% mais baixo. Varia de 160 a 200 litros por mês. E neste período de fim de ano, que se aproxima as férias, a ameaça é cair muito mais.

A coleta externa, ou seja, realizada pelo “Bombeiros da Vida” ainda supre a maior parte do leite coletado. Mesmo assim, não consegue atender 100% dos 160 leitos que a maternidade possui. Os prematuros nascidos com extremo baixo peso chegam a ficar internados por três meses na Santa Casa até ganhar o peso e o quadro clínico ideal de alta. E o tempo todo, mais crianças nascem com a necessidade de se alimentar com o leite materno.

 “O fato é que o estoque fica sempre abaixo da rotatividade que temos. A demanda diária é muito grande, necessitamos sempre. Temos 60 leitos de UTI, ou seja, são casos de prioridade. Aqueles recém-nascidos em estado clínico instável que precisam se alimentar urgentemente com bons nutrientes. Mas a mãe não tem condições de amamentar, pois eles não sugam. Aí os alimentamos com leite materno na sonda ou no copinho”, ressalta Vanda.

Serviço: Quem tiver interesse em doar leite materno para a Unidade Neonatal da Fundação Santa Casa de Misericórdia, pode se cadastrar no site do Projeto “Bombeiros da Vida”. E ainda, ligar para os números: 4009-2311 (24h, todos os dias) ou 4009-0375 (de segunda a sexta).

 

FONTE: Agência Pará

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