OFICIAL PSICÓLOGO DO CBMPA DEFENDE TESE SOBRE OS MILITARES DA CORPORAÇÃO
Publicado: 16 de fevereiro de 2021 - Hora: 12:22

  1. Início
  2. »
  3. Notícias
  4. »
  5. OFICIAL PSICÓLOGO DO CBMPA DEFENDE TESE...
OFICIAL PSICÓLOGO DO CBMPA DEFENDE TESE SOBRE OS MILITARES DA CORPORAÇÃO

O Major BM Mário Brito, psicólogo do quadro de oficiais da Diretoria de Saúde (DS) do Corpo de Bombeiros Militar do Pará e Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, defendeu na manhã da quinta-feira (04), em uma apresentação online, seu trabalho de conclusão de doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará, intitulado “Até Onde o Corpo Aguenta Somos Humanos Depois Disso Somos Bombeiros”: Análise dos Riscos Psicossociais Relacionados à Organização e às Condições do Trabalho Bombeiro Militar”. A pesquisa é um ganho fundamental, tanto no campo da ciência quanto para a Corporação.

Nesse trabalho, que lança luz sobre os aspectos psicossociais e físicos e os impactos das atividades desenvolvidas pelos militares da Corporação sobre eles próprios no que se refere à saúde mental, sujeitos à tragédias, emergências e inúmeras situações de pânico no atendimento às ocorrências, o Major Mário Brito registrou exclusivamente a experiência da categoria dos militares praças, destacando que estes são os mais vulneráveis a esses efeitos, representando 80% do efetivo do CBMPA. Ao todo, foram entrevistados 593 militares, na maioria sargentos e cabos em 23 unidades do estado do Pará. Foram inúmeras visitas aos quartéis do interior na construção de uma rede de acolhimento de relatos e vivências.

Essa pesquisa traz ao centro do debate temas muito importantes e caros aos profissionais do Sistema de Segurança Pública e Defesa Social, no caso dos bombeiros, a dissolução da imagem do bombeiro como herói, que não sofre ou sente medos, as experiências de grande estresse emocional enfrentadas a cada ocorrência, além de propor e ressaltar a humanização do bombeiro militar como indivíduo, trabalhador e pessoa.

Em entrevista à Assessoria de Comunicação do CBMPA o Major Mário Brito destacou aspectos importantes sobre o desenvolvimento da sua pesquisa:

 

1) Na sua pesquisa, o senhor escolheu trabalhar com a categoria dos praças. O que motivou essa escolha?

De modo geral, a pesquisa atendeu a uma dupla demanda. Primeiramente, partiu da instituição. O Comandante Geral à epoca, a partir de dados apresentados a ele sobre o crescente número de trabalhadores com demandas de sofrimento psíquico e de afastamentos do efetivo para tratamento de saúde, solicitou que se fizesse um levantamento das possíveis causas desses quadros.

A escolha pelos praças se deu, também, por alguns motivos: primeiro porque são os trabalhadores que representam cerca de 80% do efetivo da Corporação e, nas ocorrências, são do mesmo modo, os que estão na linha de frente em maior número; e há ocorrências em que apenas os praças estão presentes, portanto, vivenciam com maior incidência os desafios da atividade bombeiro militar.

Partindo dessas questões, eu busquei ampliar o escopo de investigação e o próprio modo de fazer escuta clínica para além do aspecto individual que o trabalhador apresentava. Eu entendo que é preciso considerar o bombeiro militar como parte do contexto em que está inserido; isso envolve pensá-lo nos seus aspectos individuais, familiar, econômico, grupal etc. Portanto, uma escuta clínica do trabalho e que considere os aspectos sociais dos trabalhadores, que inclui a escuta do sofrimento psíquico e a expressão da subjetividade.

2) Não é preciso perder muito tempo em pesquisas na internet para perceber a dificuldade em encontrar pesquisas voltadas para os bombeiros, especialmente no campo da psicologia, do olhar para os efeitos que o exercício da atividade bombeiro militar tem na vida desses profissionais, diferentemente de outras forças militares. Como o senhor compreende a relevância e contribuição da sua pesquisa nesse cenário?

De fato, ainda são poucas as pesquisas no campo da psicologia, sobretudo, pesquisas que façam essa relação do trabalho e saúde mental. No entanto, nesta última década, temos tido, mesmo que poucas, produções acadêmicas de excelente qualidade sobre a atividade do trabalho bombeiro militar. A maioria da literatura ainda é no campo da história, sociologia, antropologia militar, e, quando muito, da psicologia social. Países como Portugal e Canadá contam com pesquisas muito exitosas.

Mas o próprio CBMPA tem sido vanguardista nesse sentido. Apesar de não ser psicóloga, a Tenente Coronel BM Alyne Louzeiro, em 2016, abordou, de modo brilhante, em sua dissertação de mestrado, a temática do estresse entre trabalhadores bombeiros; li recente uma pesquisa feita pela Major BM Andreia, do CBMMG sobre a saúde mental dos condutores bombeiro militares de Belo Horizonte; a pesquisadora Liliam Ghizoni, da Universidade Federal do Tocantins, juntamente com uma psicóloga Tenente Coronel dos bombeiros do Tocantins, vem pesquisando as condições de saúde e riscos psicossociais no efetivo daquele estado e são pessoas com quem temos trocado muitas informações. Então, isso já mostra o interesse da academia por esse campo de pesquisa tão importante, considerando, especialmente, que o trabalho exercido pelos bombeiros militares é marcado por muitos riscos e desgastes, tanto para a saúde física, quanto para a saúde mental.

3) Que relevância e impacto ele provoca ou intenciona provocar no olhar da própria instituição para esses aspectos que o senhor aborda, principalmente no âmbito do trabalho, da humanização do trabalhador, do processo de desconstruir a imagem do bombeiro, do militar como alguém inabalável e sempre pronto ao serviço?

Dentre as várias atividades exercidas pelos bombeiros, além das atividades de defesa civil, estão os serviços de prevenção, extinção e perícias em locais de incêndios, busca e salvamentos, intervenção e prevenção nas situações de emergências, desastres, catástrofes e riscos, dentre outras tantas, das quais, a missão de “salvar vidas” e o resgate de pessoas em iminente perigo se destacam e colocam o bombeiro militar como uma das atividades mais bem quistas socialmente. Essa posição vem acompanhada de um custo: a ideia do bombeiro-herói. No entanto, é preciso entender que esse “herói” é tão humano quanto aqueles a quem ele presta serviços e socorre. Portanto, passível de adoecer, de sofrer, amar, perder, morrer e sentir dor. Há prazer no trabalho e no ser bombeiro militar, mas, há também, riscos e sofrimentos que estão na gênese de algumas formas de adoecimento. Isso precisa ser levado em conta pelos gestores.

4) Quais as suas expectativas em relação a repercussão da sua pesquisa não apenas no campo acadêmico, mas na construção de um olhar mais atento das instituições na prática das atividades desenvolvidas pelos efetivos das corporações?

Eu acho que uma pesquisa precisa ter relevância, sobretudo no que refere ao retorno que pode dar à sociedade, se não, são letras mortas. Os bombeiros que participaram da pesquisa de campo foram muito generosos em responder ao Protocolo de Avaliação dos Riscos Psicossociais que eu utilizei para acessar os dados, assim como pelas entrevistas que concederam. Sei que fizeram isso, acreditando que esse trabalho pudesse reverberar em melhorias das condições de trabalho.

Esse trabalho que começamos a discutir com os bombeiros do Tocantins e com o grupo de pesquisa ao qual estou vinculado na Universidade já é um começo esperançoso.

ASCOM CBMPA

Skip to content